Combate às perdas com satélite recupera 18 bilhões de litros de água

Combate às perdas com satélite recupera 18 bilhões de litros de água
Texto: Lula Pellegrini

Preservar a água potável e reduzir o desperdício são dois grandes desafios do século 21, especialmente diante das mudanças climáticas, secas mais frequentes e pressão crescente sobre os recursos naturais.

No setor de saneamento, um dos principais vilões é o vazamento de água tratada, que se perde em tubulações antigas antes mesmo de chegar às torneiras. A Águas do Rio, que atende 27 cidades fluminenses, vem enfrentando esse problema e tem obtido resultados expressivos no combate às perdas.

Programa de Redução de Perdas

Desde 2022, a concessionária da Aegea incorporou ao seu Programa de Redução de Perdas uma tecnologia que parece saída de filme de ficção científica: um satélite que já foi usado para buscar sinais de água em Marte agora está voltado para o subsolo do Rio de Janeiro. 

A missão? Detectar vazamentos invisíveis a olho nu, muitas vezes escondidos sob várias camadas de asfalto.

Mapeamento de área equivalente a 49 mil campos de futebol

Esse “raio X espacial” permite identificar problemas em tubulações em áreas de até 350 km², o equivalente a cerca de 49 mil campos de futebol, em uma única passagem orbital. A tecnologia mapeia regiões urbanas com alta precisão, detectando a presença de água tratada com cloro embaixo da terra, um sinal de vazamentos ocultos na rede. 

Com os pontos críticos já mapeados, as equipes não precisam mais realizar buscas aleatórias nas ruas: vão direto aos locais sinalizados e usam geofones, um tipo de “estetoscópio” que escuta os sons do subsolo e indica o ponto exato do problema.

Só na área de operação da Águas do Rio são mais de 17 mil quilômetros de redes de água. Em 2024, o satélite detectou 2.726 possíveis vazamentos. Desses, 2.144 foram confirmados em campo, uma taxa de assertividade de cerca de 80%. 

Com o apoio dessa tecnologia, cerca de 18 bilhões de litros de água tratada deixaram de ser desperdiçados em 2024, volume suficiente para abastecer mais de 300 mil pessoas por ano.

Eficiência operacional como aliada da sustentabilidade

Para Anselmo Leal, presidente da Águas do Rio, o impacto da tecnologia vai além da eficiência operacional:

“Estamos usando inovação para proteger um recurso essencial à vida. Cada vazamento que conseguimos eliminar representa água limpa devolvida ao sistema, pronta para atender comunidades que historicamente sofrem com o abastecimento. Além de economizar água, também reduzimos o consumo de energia e o impacto ambiental. Isso mostra que a tecnologia, quando bem aplicada, pode ser uma grande aliada da sustentabilidade e da justiça social.”

Plano de 10 anos mira redução drástica nas perdas

A jornada até uma distribuição de água mais eficiente é longa. Em novembro de 2021, a empresa assumiu um sistema antigo e altamente ineficiente, com índice de perdas de cerca de 65%. O compromisso da companhia é ambicioso: reduzir esse número para 25% em até 10 anos.

A meta envolve mais do que a detecção inteligente de vazamentos. Inclui também um conjunto robusto de ações de infraestrutura, como a fiscalização de ligações clandestinas, o uso de válvulas para a setorização das redes, além da gestão de ocorrências e ações preventivas via Centro de Operações Integradas (COI), um dos mais modernos da América Latina.

Inteligência tecnológica com compromisso ambiental

Anselmo reforça que inovação, nesse contexto, é uma ponte para um futuro mais justo e equilibrado:“Ao unir inteligência tecnológica com compromisso ambiental, mostramos que é possível transformar a realidade das cidades. Com menos perdas, mais pessoas têm acesso à água, o meio ambiente é preservado e todos ganham. Inovar também é cuidar da vida”, concluiu ele.