Empresas podem acelerar ações para reverter perdas da natureza

Opinião_WWF_

Artigo de Mauricio Voivodic*. 

Florestas queimando, geleiras derretendo, recifes de corais morrendo e comunidades humanas ao redor do mundo padecendo de secas e tempestades mais frequentes e severas. Dos oito milhões de espécies animais e vegetais existentes na Terra, um milhão encontra-se ameaçado de extinção.

Há pelo menos meio século a ciência tem revelado um conjunto preocupante de evidências da conexão entre atividades econômicas predatórias e o agravamento das mudanças climáticas e da erosão da biodiversidade no planeta, e a eclosão de epidemias e pandemias, como a da COVID-19. Estamos sendo protagonistas da destruição dos próprios alicerces de nossas economias, meios de subsistência, segurança alimentar, saúde e qualidade de vida.

A boa notícia é que o interesse pela natureza e o engajamento em iniciativas de proteção ambiental vêm crescendo significativamente nos últimos cinco anos, como mostra um estudo realizado para o WWF pela Economist Intelligence Unit (EIU), a unidade de inteligência da revista britânica The Economist. O número de buscas on-line por produtos sustentáveis, por exemplo, aumentou impressionantes 71% em todo o mundo desde 2016.

O “ecodespertar” identificado na pesquisa da EIU, publicada recentemente, já não se limita principalmente aos países de alta renda, agora também incluindo economias em desenvolvimento e emergentes. No Equador, as buscas on-line por produtos sustentáveis registraram salto de 120%, ao passo que na Indonésia elas cresceram 24%. Mais de 159 milhões de pessoas assinaram petições on-line em apoio à natureza e, dessas, 23 milhões de assinaturas eram do Brasil, o que representa 14% da preocupação mundial. Além disso, 96% dos entrevistados da pesquisa no Brasil consideram a perda da natureza um problema sério.

Já não se pode mais usar o pretexto de que falta demanda por produtos mais sustentáveis. Como apontou a pesquisa, é claro o interesse dos consumidores por bens e serviços produzidos e consumidos em harmonia com os limites da natureza. Cabe agora aos tomadores de decisões criar mecanismos legais, administrativos e voluntários para acelerar a transição de um modelo pautado nos combustíveis fósseis, no desmatamento, na poluição atmosférica, hídrica e química para uma economia limpa, de baixo carbono e socialmente inclusiva.

Nessa transição, uma das ações mais relevantes é a recuperação dos ambientes naturais, que integram o conjunto de medidas preconizadas pelas iniciativas da ONU Década da Ação e Década da Restauração de Ecossistemas. Ambas têm como horizonte de implementação o período compreendido entre 2021 e 2030, prazo que os cientistas apontam como última chance para evitar mudanças climáticas catastróficas.

A Década da Ação visa acelerar o cumprimento das 169 metas associadas aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que junto com o Acordo de Paris constituem a espinha dorsal da Agenda 2030 da ONU. Porém, o sucesso de ao menos oito ODS – os ligados aos temas da pobreza, fome, saúde, água, cidades, clima, oceanos e terra – implica a expansão das atividades de recuperação de ecossistemas degradados ou totalmente removidos para a implantação de fazendas, indústrias e das cidades. É do que trata a iniciativa Década da Restauração de Ecossistemas.

No Brasil, uma das principais iniciativas de recuperação de ambientes naturais é o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica. Apoiado pelo WWF, Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), TNC e WRI-Brasil, o pacto tem como principal objetivo recuperar 15 milhões de hectares de vegetação nativa até 2050 neste que é um dos biomas de maior biodiversidade no mundo.

Os serviços ecossistêmicos gerados pelos ecossistemas da Mata Atlântica permitem a manutenção de atividades essenciais à economia e à população, como o abastecimento de água, a agricultura, a pesca, a geração de energia elétrica, o turismo e o lazer. É fácil concluirmos que a destruição da natureza não é uma questão apenas ambiental. Ela afeta diretamente o desenvolvimento social e econômico de um país.

Mais sobre o autor

O diretor-executivo do WWF-Brasil, Mauricio Voivodic, é engenheiro florestal com mestrado em Ciências Ambientais pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalhou no Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), onde passou por diversos cargos e áreas de atuação, chegando à direção-executiva. Paralelamente, foi membro do conselho diretor de duas organizações internacionais: ISEAL e Sustainable Agriculture Network (SAN), do Steering Committee, do Tropical Forest Alliance 2020, e fellow do programa Climate Strategies Accelerator. Além da atuação marcada por contribuições nacionais e internacionais em debates sobre sustentabilidade, silvicultura e mudanças climáticas, tem trabalhos extensivos em processos de certificação para pequenos produtores, grupos comunitários e indígenas, e empresas madeireiras.

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