Em mais um movimento do projeto Cabeceiras do Pantanal, o WWF-Brasil e o Instituto Aegea estiveram presentes no município de Jauru, região sudoeste do Mato Grosso, acompanhando a execução da segunda etapa de restauração florestal na Fazenda Araçatuba.
O trabalho integra a parceria institucional que busca a recuperação de nascentes em áreas degradadas na região que abastece a bacia do Pantanal.
Restauração ecológica
A equipe técnica retornou ao local, depois de um ano, para acompanhar a continuidade do trabalho de restauração ecológica. Está sendo realizado o plantio de 8.000 mudas e 300 Kg de sementes de espécies nativas, em uma área de 14 hectares, contornando as nascentes que irrigam o Córrego da Fortuna, ponto de captação para o abastecimento da cidade.
Esta etapa do restauro está se concentrando em Áreas de Preservação Permanente (APP) localizadas à montante do Córrego Fortuna, principalmente em locais em estágio avançado do processo erosivo, que são conhecidos como voçorocas.
São estruturas formadas em decorrência da retirada da vegetação ciliar para o desenvolvimento da pecuária extensiva local. O procedimento provoca a exposição do solo e, consequentemente, a desagregação e deposição em regiões topograficamente mais baixas.
O trabalho de recuperação
Os técnicos agroflorestais iniciaram o trabalho com o cercamento para evitar o pisoteio do gado nessas áreas frágeis e susceptíveis.
Com o apoio dos estudantes do curso de Agronomia da Faculdade UniBRAS Quatro Marcos, da cidade de São José do Quatro Marcos, também foram colocadas barreiras físicas, feita a contenção de pontos de erosão, o preparo do solo e a abertura dos berços onde foram plantadas 16 espécies diferentes de árvores nativas.
Vivenciando na prática as teorias
Natural de Jauru, o universitário Caio Ferreira Oliveira escolheu participar da ação para viver na prática o que vê em teoria na faculdade. “A gente sofre muito com a falta de água no período de seca e eu sei que essa ação vai nos ajudar bastante para termos água na frente”, afirmou.
Para esta região, foram escolhidas técnicas de restauro florestal com o uso da adubação verde. O método intercala mudas de espécies nativas do cerrado brasileiro com a muvuca de sementes, que é um mix de diferentes espécies, que visam simular um ambiente de regeneração natural. Para essa esta etapa, o projeto contou com a parceria da Rede de Sementes do Xingu.
Comunidades tradicionais participam da parceria
Juliana Assis, analista de Conservação do WWF-Brasil, que atuou na coordenação do Plantio de Restauração dessa APP, explica a importância dessas parcerias.
“É uma área prioritária para o WWF-Brasil por ser uma zona de recarga hídrica para abastecimento da cidade. Além da parceria com Aegea, temos a contribuição da Rede de Sementes do Xingu, formada por indígenas que comercializam sementes nativas. Toda a biodiversidade que estamos inserindo no sistema são decorrentes do trabalho dessas comunidades tradicionais, que fortalecem essa restauração”, explicou.
Resultados positivos já foram percebidos na estiagem
Os efeitos já estão sendo percebidos. A Águas de Jauru (MT), concessionária da Aegea, que presta serviços de água e esgoto no município, percebeu melhoria na disponibilidade hídrica nesta estiagem.
“Tivemos o ano de maior seca do Estado, com altas de temperaturas históricas, porém conseguimos sustentar a operação no município, evitando o desabastecimento e entendemos que parte disso se deve aos resultados do projeto iniciado no ano passado”, disse Ítalo Souza, diretor-executivo da Águas de Jauru.
Para Bruna, coordenadora de EHS da empresa, essa ação beneficia toda a cadeia de produção de água tratada. “A gente atua não só plantando, mas a gente atua recuperando, e isso tudo ajuda a garantir que no período de seca vamos ter água disponível para abastecer a população, com qualidade e disponibilidade”, disse.
Compromisso com a disponibilidade hídrica
Para Maíra Sugawara, coordenadora de Qualidade Ambiental do Instituto Aegea, esse projeto consolida o compromisso da empresa com a disponibilidade hídrica nesse bioma.
“Esse projeto é a continuidade de uma parceria que a Aegea tem com o WWF-Brasil para tratar a criticidade do abastecimento e a resiliência hídrica deste bioma. Para além de estruturar melhor a cadeia de restauro, desde a catação de sementes à parceria de capacitação do pessoal que vai fazer o plantio, a gente quer maior biodiversidade conservada na região e preservar os corpos d’água, aumentando sua disponibilidade tanto na parte de quantidade, como de qualidade, diminuindo a presença de sedimento e garantindo a segurança hídrica para esse território”, disse.
Próximos passos
As ações continuam sendo monitoradas pela WWF-Brasil por meio dos seus parceiros locais, incluindo a atuação de fornecedores, universidades e profissionais contratados que acompanham o estabelecimento do projeto ao longo do ano.
Dentro do período de três anos a WWF-Brasil espera a consolidação restauração ecológica deste ponto com caracterização da floresta nativa, e consolidação da Área de Proteção Permanente (APP)
Mais sobre o Projeto Cabeceiras do Pantanal
A parceria entre o WWF-Brasil e o Instituto Aegea tem como objetivo a recuperação de áreas degradadas por meio da restauração da vegetação nativa na região das Cabeceiras do Pantanal para a melhoria da qualidade e da disponibilidade hídrica na região.
Entre as ações do projeto estão a realização de diversos estudos e modelagens, o plantio em beiras de rios e nascentes, bem como o fortalecimento de organizações locais para a conservação e restauração da vegetação nativa do Cerrado e a conscientização da sociedade sobre a importância dos recursos naturais, por meio de encontros com atores locais e projetos de educação, como o Restaura Natureza.
Fotos: Alisson Rodrigues