No dia 27 de maio, o painel “Favelas e áreas de ocupação informal: como universalizar abastecimento de água, esgoto e drenagem pluvial”, durante o 33º Congresso da ABES, debateu um dos maiores desafios da infraestrutura urbana brasileira: levar saneamento a territórios historicamente excluídos dos serviços públicos.
Pedro Freitas, diretor-presidente da Águas de Manaus, compartilhou a experiência da capital amazonense — onde mais da metade da população vive em áreas de ocupação informal — e mostrou como o avanço da universalização passa por projetos sob medida, tecnologia e participação comunitária.
Diagnóstico: exclusão histórica e soluções urgentes
Quando a nova gestão assumiu os serviços de saneamento em Manaus, em 2018, havia cerca de 200 mil pessoas sem acesso regular à água tratada. Em becos, palafitas, comunidades ribeirinhas e indígenas urbanas, ligações clandestinas e ausência de rede formal dominavam o cenário.
A resposta foi o programa Vem com a Gente, que uniu diagnóstico técnico, diálogo com lideranças e implantação de redes adaptadas — incluindo redes aéreas e soluções para áreas alagáveis.
Casos que mostram transformação
Entre os exemplos apresentados por Pedro Freitas estão:
- Beco Nonato: primeira área de palafitas a receber abastecimento regular de água e, depois, esgotamento sanitário.
- Parque das Tribos: sistema completo de água em comunidade indígena urbana recém-regularizada.
- Educandos: abastecimento para 3 mil moradores às margens do Rio Negro.
- Waikiru: água encanada chegou pela primeira vez em 30 anos.
- Em todos os casos, as soluções técnicas foram pensadas para responder às particularidades do território, com elevação de estruturas, mapeamento porta a porta e redes instaladas com segurança em áreas de difícil acesso.
Infraestrutura com impacto social direto
Além da infraestrutura, os projetos resultaram em inclusão social e cidadania. Moradores passaram a ter comprovante de residência, condição básica para acessar políticas públicas. A ampliação da Tarifa Social beneficiou mais de 109 mil famílias, com destaque para a Tarifa Manauara e a Tarifa 10, que garantem preços acessíveis em regiões de vulnerabilidade.
O impacto na saúde pública também foi expressivo: houve redução de 88% dos casos de hepatite A e 46% nos casos de diarreia, segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas.
Cuidar de quem está mais distante
Pedro Freitas concluiu destacando que universalizar o acesso ao saneamento exige ir além dos mapas oficiais, reconhecendo os diversos “brasis” urbanos e investindo onde antes o Estado não chegava. Dialogar, adaptar e agir com sensibilidade são os pilares de uma infraestrutura verdadeiramente inclusiva.