O polvo-pigmeu, Paroctopus cthulhu, uma espécie que ainda não tinha sido vista na Baía de Guanabara (RJ), foi encontrado perto da Ilha do Governador, que faz parte do ecossistema, pelo diretor do Instituto Mar Urbano (IMU), Ricardo Gomes.
Segundo o biólogo, a presença do animal ali pode mudar a história das águas do Rio de Janeiro. “O polvo-pigmeu é o que chamamos de espécie bandeira, que representa causas ambientais, pois ao sensibilizar as pessoas, faz com que todo o ecossistema onde ele está inserido seja protegido”, afirma o biólogo.
“Embora seja minúsculo, esse polvinho tem o carisma de uma baleia pelo poder de tocar o coração-, o imaginário das pessoas, para ganharmos força na necessidade de recuperarmos o meio ambiente e mudar a história das águas do Rio de Janeiro”, diz.
Gradual retorno da fauna
O registro do encontro inusitado foi feito pelo Jornal O Estadão. “Estávamos fazendo um filme sobre economia azul na Baía de Guanabara e tinha um barco pequeno com dois pescadores puxando uma rede. Cheguei perto-, vi o polvinho agarrado”, contou Ricardo ao Estadão.
A reportagem também mostra que, antes considerado um lugar quase inóspito para a vida marinha, a Baía de Guanabara registra o gradual retorno da fauna a suas águas. Além da espécie rara, foram registradas as presenças de raias, tartarugas, cavalos-marinhos e biguás.
A manutenção de correntes e a renovação constante da água – 50% feita naturalmente pela Baía a cada 12 dias – desempenham papel crucial para o retorno da vida marinha.
Investimentos em saneamento
Segundo o biólogo, uma ação pontual que contribuiu para o reaparecimento gradual das espécies foi a recuperação do Interceptor Oceânico, um dispositivo conectado a uma rede de tubulações que despeja os resíduos quatro quilômetros mar afora.
“O interceptor foi construído na década de 70 e nunca havia sido limpo”, diz. A limpeza e reposição, feita pela concessionária Águas do Rio, impactaram diretamente na qualidade da água, segundo Gomes.
Água própria para banho
De acordo com o diretor do IMU, além de encontrar o polvo-pigmeu, outra boa notícia em 2024 foi mergulhar na Praia do Flamengo. “Eu não mergulhava lá há 30 anos”, afirma.
O boletim anual do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) do Rio de Janeiro aponta que a Praia do Flamengo passou a maior parte de 2024 como própria para banho.
Para ele, as condições para mergulhos na Baía de Guanabara têm melhorado, mas ainda há muito a ser feito.
“O polvo-pigmeu veio agarrado a um pedaço de plástico e não a uma concha, como seria o normal. Os cientistas estão preocupados de que o avistamento esteja associado a um tipo de resíduo humano”, conta.
“Controlar a entrada de esgoto sem tratamento e de resíduos no mar para que a vida marinha retorne e encontre as condições ideais em seu habitat”, conclui.