Uma parceria inovadora está transformando a agricultura familiar em Mato Grosso do Sul. O primeiro repasse de 150 toneladas do biofertilizante que utiliza lodo de estações de tratamento de esgoto foi repassado a pequenos produtores.
Além do lodo das estações de tratamento de esgoto (ETEs) operadas pela Ambiental MS Pantanal, o produto pioneiro é composto também por esterco bovino. O material é trabalhado e processado pela Organics, que o transforma em um fertilizante apto para uso agrícola.
Solução inovadora para um problema antigo
Chamado de Fertibio-MS, foi lançado em 14 de junho na unidade da Organics em Terenos, município a 32 km de Campo Grande, capital de MS. A iniciativa é uma solução inovadora para um problema antigo: a destinação adequada dos biossólidos gerados nas ETEs.
“Com este projeto, Mato Grosso do Sul se torna o único estado do Brasil a utilizar integralmente o lodo das ETEs de sua concessionária estadual de água e esgoto de forma totalmente sustentável e circular. Essa ação tem potencial para ser referência em todo o país”, afirma Paulo Antunes, diretor-presidente da Ambiental MS Pantanal.
Biofertilizante atende exigências para uso em cultivo de alimentos
Osvaldo Miaki, diretor-executivo da Organics Biofertilizantes, ressaltou que além da preocupação ambiental, o projeto atende às exigências de mercado quanto ao processo de produção e cultivo de alimentos previstos em lei.
“Foi feito um trabalho junto com a Embrapa para comprovar a sanitização do biofertilizante Os testes foram acompanhados e os resultados aprovados pelo Imasul e, também, pelo Ministério da Agricultura,” explica.
Projeto vai revolucionar a agricultura familiar na região
Além do pioneirismo ambiental, a iniciativa pretende distribuir, gratuitamente, 20% da produção aos agricultores familiares, assentados, quilombolas e indígenas. A estimativa é de, pelo menos, 1.200 toneladas por ano, ou seja, 100 toneladas/mês.
Resultado de dois anos de tratativas e estudos entre o poder público e o privado, o projeto promete revolucionar a agricultura familiar na região. Só nesta primeira fase estão sendo atendidos produtores familiares de Campo Grande, Jaraguari, Sidrolândia, Terenos e Corguinho.
Presente valioso
No Polo de Produção Orgânico em Campo Grande, o produtor Jair Azambuja, que estava preocupado com a escassez de recursos, vê a chegada do Fertibio-MS como um presente valioso. Com outras prioridades em caixa e o estoque quase vazio de insumo, o biofertilizante veio na hora certa.
“É uma junção de benefícios porque com essa carga de 12 toneladas doadas é mais do usamos anualmente, sendo que pagamos 900 reais pela tonelada do produto mais o frete, então, era em torno de 10 mil reais só com fertilizante. É uma senhora economia”, diz Azambuja.
Outra vantagem é receber o produto pronto para o uso. Com o produtor local de insumos que tínhamos acesso era preciso fazer compostagem e isso levava três meses até que pudéssemos aplicar o fertilizante nos canteiros”.
Economia que aumenta a eficiência
Para quem conhece bem as demandas e a realidade no campo do agricultor familiar, como o engenheiro agrônomo e coordenador da regional da Agraer de Campo Grande, Valdecir Batista, a chegada gratuita do biofertilizante é um grande benefício em termos de custo e produção, permitindo economia em outros insumos e aumentando a eficiência na colheita.
“Estamos falando de um produto com pH acima de 7, que é um pH básico, e permite menos demanda de cálcio. A cultura do tomate, por exemplo, exige que o produtor adquira fontes de nutrientes que são extremamente caras, com o biofertilizante ele pode reduzir essa aquisição e beneficiar tanto a renda do produtor quanto o valor final dos alimentos que chegam até o consumidor”, afirma.
Esforço conjunto que reduz impactos ambientais
O Fertibio-MS é fruto de um esforço conjunto entre a Ambiental MS Pantanal (PPP entre a Sanesul e Aegea), o Governo do Estado, por meio da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário) e da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), e o Grupo Organics.
O secretário da Semadesc, Jaime Verruck, enfatizou a importância desta alternativa que minimiza os impactos ambientais e beneficia diretamente as famílias que dependem da agricultura.
“Esse lodo até então era destinado 100% aos aterros sanitários, o que reduzia a vida útil desses locais e gerava custos adicionais. Com essa parceria, identificamos uma possibilidade técnica para transformar esse lodo em um fertilizante totalmente credenciado e apto tanto para uso comercial quanto para os produtores da agricultura familiar,” destaca o secretário.
Agora, os trabalhos de Assistência Técnica e Extensão Rural vão acompanhar o desenvolvimento da utilização do fertilizante da porteira para dentro dos sítios. A meta é que os resultados sirvam para propagar o interesse e adesão de mais agricultores familiares pelo produto.
Fotos: Aline Lira, Agraer.