Aegea investe para continuar sendo inovadora

Eduardo Mendes

Entrevista a Rosiney Bigattão

Aegea investe para continuar sendo inovadora

A Aegea, que já nasceu fazendo da inovação e da tecnologia as bases do seu modelo de atuação, continua investindo para ter sistemas eficientes, serviços de qualidade e fazendo das pessoas seu principal ativo. Inteligência artificial, uso aplicado de dados, multicanalidade e um jeito cada vez mais sustentável de atuar fazem parte do cardápio de inovações que estão sendo implantadas. Eduardo Mendes, o diretor de Tecnologia da Informação da Aegea, está ajudando a preparar a empresa para continuar sendo inovadora nos próximos anos.

Como está sendo estruturado o olhar para o futuro da Aegea?

Quando falamos na Aegea do futuro pensamos em uma empresa mais automatizada, do ponto de vista operacional, e muito mais próxima do cliente, do ponto de vista de relacionamento. Os serviços de saneamento hoje são praticamente feitos da mesma forma como eram há 30 anos: a pessoa continua recebendo água em casa, o leiturista passa uma vez por mês e ela recebe a conta. Muitas vezes, sem saber direito qual a empresa que está prestando o serviço, nem o que está por trás da água que recebe. Então, a nossa ideia de uma empresa do futuro é entender muito mais as necessidades dos usuários – qual a quantidade de água eles consomem a cada mês, em qual horário eles mais consomem, quem utiliza direto da rede e quem armazena em caixas d’água. E, do ponto de vista interno, como operacionalizar o serviço de uma forma mais automatizada, com o menor número de intervenções manuais e com menos processos em papel para que o serviço seja feito de uma forma ainda mais eficiente.

Mas a Aegea já não é considerada uma empresa inovadora?

Para os dias de hoje, sim, ela é reconhecida pela inovação, o desafio é justamente mantê-la nesta jornada de inovação nos próximos anos. O que é feito hoje em inovação, amanhã vira commodity, outras empresas passam a fazer e viram boas práticas; nós na Aegea estamos sempre buscando o “next practice” pois o “best practice” apenas nos iguala, não nos diferencia. O caminho trilhado até aqui foi muito bem construído e vamos manter a Aegea na trilha de inovação. Encontrei muitos talentos, isso me surpreendeu positivamente na Aegea, é uma empresa que investe, tanto em tecnologia quanto em inovação. É importante lembrar que inovação não está apenas ligada à tecnologia, pois ela é inerente ao ser humano, é o que nos move, estamos buscando constantemente alguma coisa nova, melhor. Todo mundo pode inovar, independente se atua na linha de frente ou não. Uma nova forma de montar uma bomba é inovação, já a tecnologia é um viabilizador e as duas são muito importantes para a Aegea continuar em sua trajetória evolutiva.

A Aegea investe em automação e em Centros de Controle Operacionais das unidades; isso vai ser reforçado?

A Aegea sempre investiu em tecnologia, mas o que temos é uma automação para hoje, não reflete o que vai acontecer daqui a dez anos. Uma coisa é automação, outra é automatização. A primeira te dá os alertas, o controle para operar remotamente. Automatização trabalha em causas e consequências, ela praticamente opera para você. Por exemplo: se for preciso fazer uma manobra por conta de uma manutenção em uma área, os efeitos que ela vai provocar, na maioria das vezes, está apenas na cabeça dos operadores, que sabem quais registros precisam ser fechados para parar o abastecimento e o que isso vai acarretar. A ideia é temos toda esta rede mapeada e com simuladores on-line, capazes de montar modelos estatísticos, utilizando inteligência artificial, para prever os possíveis cenários. E deixar para o operador escolher o que fazer, olhando variáveis não apenas de abastecimento, mas também considerando possíveis impactos comerciais. Aliado à essa plataforma tecnológica que estamos prevendo para os centros de operação, um tema de extrema relevância que está sendo considerado é a segurança. Atualmente o foco dos cibercriminosos tem sido achar vulnerabilidades nas redes de operação, pois muitas delas não são implementadas dentro das regras de segurança utilizadas nas redes corporativas. 

Tem uma questão física neste processo, pois o Brasil tem redes de água e esgoto antigas. A Aegea está fazendo a modernização das redes?

As concessões que vêm do Poder Público costumam ser mais defasadas no que tange à tecnologia. Quando a Aegea assume uma empresa que já vem do setor privado, geralmente tem algum investimento feito, seja na instalação de sensores, no histórico de comportamento dos ativos ou até mesmo nos cadastros. Na Águas do Rio, por exemplo, foi planejada uma arquitetura tecnológica integrando as diversas áreas e servirá como base para ser replicada nas demais empresas do grupo em 2022.  Teremos ainda cadastros únicos e todos os dados arquivados em um data lake (sistema de armazenamento de dados), onde será possível fazer cruzamento de informações, colocando algoritmos de inteligência artificial para prever comportamentos.  É isso que pensamos para a Aegea do futuro. Hoje a maior parte da operação ainda é reativa. Quando falamos em modelos preditivos, é virar a chave do reativo para o proativo.

A Aegea está próxima da virada?

Sim, bem perto, temos muitos projetos em andamento e, em 2022, muitas unidades já terão os novos sistemas funcionando. Porém, vale ressaltar que não existe uma virada definitiva – o mundo da tecnologia está em constante evolução, é um setor que está crescendo muito. Com a pandemia houve um grande desenvolvimento. Há uma previsão que, em três anos, teremos mais vagas em TI do que candidatos capacitados. Na Aegea, estamos em constante contato com HUBs de inovação (espaços voltados para a geração de negócios, que reúnem startups e pequenas empresas), pois isso é um combustível importante para acelerarmos essa jornada de transformação que estamos buscando, com tecnologias inovadoras.   

Como manter todos os dados atualizados?

Um dos termos mais utilizados atualmente e que provem das transformações digitais é ser uma empresa data driven – que toma suas decisões baseada em dados e estes são disponibilizados de forma estruturada e simplificada para todos os setores. Nesse sentido, um dos projetos que estamos implementando é a centralização dos dados em um data lake que será “a fonte da verdade”, ou seja, qualquer relatório, gráfico ou apresentação deverá ser feita a partir dele. Assim, garantiremos que todos estão vendo a mesma informação e ela já é validada. Outro ponto importante quando falamos de dados são os cadastros. Estamos implementando ferramentas que manterão os cadastros “vivos”, em constante atualização. Por exemplo, o cadastramento de ativos, que é feito no inicio da operação, fica desconectado da operação. Agora todas as alterações de ativos deverão partir de uma ordem de serviço e, após o serviço realizado, ela automaticamente atualizará o cadastro. O mesmo vale para o cadastro de clientes, onde teremos um sistema de atualização que, ao mesmo tempo, faz o mapeamento do perfil de cada um.

Como vai funcionar na prática para as pessoas terem acesso aos dados?

Tudo está sendo colocado em três camadas – a primeira é a sistêmica, que reúne os chamamos sistemas transacionais, que são os que realmente fazem alguma alteração em informações. Aí estão os dados do Call Center, da Engenharia e os cadastros, entre outros, e eles atualizam a Base Integrada Aegea (BIA), que é a segunda camada. A terceira são os visualizadores, que têm uma interface gráfica que pode ser em formato de relatórios, gráficos ou tabelas. Todos têm acesso a essa camada: o operador de uma ETA e de uma ETE, por exemplo, inclusive de unidades diferentes. Podemos ter o Centro de Controle Operacional da Ambiental MS Pantanal (MS) olhando o que acontece na Águas de Teresina (PI). Isso vai permitir uma operação que tenha um modelo único para todos, replicável em qualquer empresa da Aegea. Algumas coisas hoje já são replicáveis, agora estamos caminhando para os sistemas únicos, que coletam o mesmo tipo de informação e alimentem o mesmo banco de dados, que é a base de conhecimento da máquina. Depois, ela demora alguns meses para tomar as decisões corretas.

Em quanto tempo os sistemas únicos estarão implantados em todas as unidades?

Dois anos. O nosso objetivo é interligar os sistemas para viabilizar de fato o conceito de machine learning, pois a máquina aprende quanto mais dados ela tiver. Então, por que ter um sistema que só olha para Teresina (PI) quando ele pode aprender com qualquer outro? Pois a bomba que funciona na Águas de Teresina pode ser a mesma da Águas Guariroba (MS) ou da Águas de Manaus (AM). Em vez de o sistema entender o comportamento de uma bomba, serão 100 quando eu colocar todas as unidades interligadas. A precisão da decisão que o sistema vai tomar é muito maior, pois ele terá mais dados. É a mesma coisa que você ensinar uma criança por meio de um único livro. Quando ela lê vários, ela tem muito mais conhecimento, maior poder de argumentação. No saneamento é a mesma coisa – estaremos ensinando o sistema por meio de nossas redes e para isso é preciso interligar todas dentro de uma mesma lógica de inteligência. Depois, a máquina precisa aprender a tomar as decisões corretas – de novo, como uma criança que, depois que entra na escola, leva um tempo para aprender a ler e a escrever. A máquina também, apesar de ser bem mais rápida.

Em que sentido o uso da inteligência artificial pode transformar a vida dos usuários?

Em muitos aspectos. Além de sistemas baseados em inteligência artificial, estamos implantando também modelos de redes neurais, que são inspirados no nosso sistema nervoso central e capazes de realizar o aprendizado de uma máquina por meio de reconhecimento de padrões. Tudo isso, no fim do processo, resulta em mais eficiência e melhores serviços. É a máquina analisando os dados e mostrando o que deve ser feito. É começar o dia sabendo que tem uma bomba para ser trocada, mesmo sem estar quebrada. Mas ela já usou 99% da sua vida útil e, se você esperar ela quebrar, vai desabastecer um grande bairro da cidade. São decisões tomadas com mais argumentos, com muito mais dados. Outro exemplo, em relação ao comportamento de clientes: se conheço o perfil do usuário, tenho a média consumida nos últimos anos, posso saber, antecipadamente, qual a demanda de água para os próximos meses ou, se houver uma alteração brusca, posso alertá-lo da possibilidade de haver um vazamento antes de ele deixar de pagar, aumentando a inadimplência. Esperamos ter ações assim, agindo proativamente.

Como fica a questão da segurança dos dados?

Estamos reforçando nossa política, fizemos várias atualizações de hardware e trabalhamos na conscientização dos profissionais, pois envolve o comprometimento de todos. Às vezes, um funcionário coloca em risco uma empresa inteira. Vou dar um exemplo: para se sentir segura, muitas vezes a pessoa enche a casa dela de cerca elétrica, portão com alarme e tudo o mais. Mas o maior patrimônio pode ser acessado por uma senha no celular e ela coloca a data de aniversário. Isso mudou muito, os assaltos residenciais são menores em comparação aos digitais, com todo tipo de golpe. Atualmente, a principal porta de entrada dos ataques tem sido os sistemas de automação. A Aegea tem uma preocupação especial com a questão da segurança e trabalhamos para mitigar qualquer chance de invasão.

Como os colaboradores podem contribuir e, ao mesmo tempo, acompanhar a Aegea nessa trajetória de inovação?

A jornada é de todos, para ser feita de mãos dadas. Um dos diferenciais da empresa é a Academia Aegea, que tem a função de preparar todo mundo para essa nova jornada. Fechamos também uma parceria grande com uma empresa de cursos de tecnologia, a DIO, para ampliar as oportunidades para as pessoas se atualizarem e se capacitarem. Além disso, foi criada uma plataforma de desenvolvimento de sistemas, a Aegea Labs, onde qualquer pessoa da Aegea que queira desenvolver um sistema, para solucionar qualquer tipo de desafio, poderá codificar e terá mentoria de especialistas de TI. Outra iniciativa é o Café Tech, que acontece a cada 15 dias, sempre com um tema diferente, como um podcast ao vivo, todo mundo pode opinar, trocar ideias e se inspirar. Por fim, temos a Inovae, uma plataforma para capturar novas ideias e reconhecer as boas iniciativas. 

Para atuar em saneamento é preciso gostar e saber sobre tecnologia?

Hoje tecnologia é praticamente uma nova alfabetização, passamos grande parte do nosso dia mexendo em aplicativos no celular, no tablet e no computador. Temos atualmente até geladeiras que são capazes de fazer compras on-line com base no que está armazenado dentro delas… Creio que não apenas para o saneamento, mas para a nossa vida pessoal é muito importante termos conhecimentos básicos de tecnologia. Um dos efeitos da pandemia foi a aceleração da adoção em massa da tecnologia, em todas as áreas. Um exemplo claro é a questão do ensino, onde agora você consegue ter acesso a universidades de diversos países, ou cursos das melhores entidades, sem ter que gastar com deslocamento ou hospedagem. O uso da tecnologia é um caminho sem volta, até para funções do dia a dia.

Como você se atualiza e o que faz para ser profissional inovador?

Uma pessoa inovadora é geralmente muito curiosa e um pouco “incomodada” com aquilo que, de alguma forma, acredita que poderia funcionar melhor. Eu pesquiso muito, leio bastante, gosto de fazer cursos de tecnologias novas – não tem outra opção, se você quer realmente enxergar o futuro tem de olhar o que está acontecendo, acompanhar, questionar. E testar, pois muitas tecnologias fracassaram cinco, seis vezes até vingarem, então, tem de persistir. Estudo, resiliência e inovação – três palavras que precisam estar sempre juntas nessa jornada.

Pular para o conteúdo