Na Semana da Água, fica a importante reflexão: como podemos abastecer torneiras hoje secas, em um planeta com uma população crescente e com fontes limitadas de água potável?
Encarar o desafio passa inevitavelmente pelo combate às perdas de água na distribuição, que no Brasil é de 40,3%, segundo o Trata Brasil.
Só na cidade do Rio de Janeiro, os números impressionam, com o desperdício anual de água tratada girando em torno de 53 mil piscinas olímpicas de água, volume que poderia abastecer 1,9 milhão de pessoas.
Aliado contra perdas
A Águas do Rio, maior concessionária privada de saneamento do país, tem como aliado no combate à perdas um satélite, que antes era utilizado para encontrar água em Marte. O equipamento hoje está voltado para a capital fluminense à procura de vazamentos em sua rede de fornecimento de água.
O equipamento escaneia com precisão o subsolo para onde está apontado. Com softwares inteligentes, identifica o que é água tratada por meio do cloro dissolvido na água, utilizado nas estações de tratamento. Assim, a diferencia da água bruta – lençol freático, rios subterrâneos ou poços artesianos.
Trabalho feito com precisão
Depois de mapeados os possíveis focos de vazamentos, as equipes operacionais iniciam um trabalho mais preciso com o uso de geofone, equipamento ultrassensível a sons, nos locais indicados pelo satélite. O passo seguinte é reparar ou trocar a tubulação e resolver o problema.
“Antes do uso do satélite, a busca por vazamentos ocultos era um trabalho de formiguinha, feito por equipes caminhando com geofone de rua em rua. Ganhamos tempo com a nova tecnologia. Só na zona sul, levaríamos quatro meses para mapear pontos de desperdício – fizemos isso em apenas 20 dias”, explica o diretor-presidente da Águas do Rio, Alexandre Bianchini.
Além disso, segundo ele, após o uso do novo equipamento, a média de identificação do desperdício aumentou. “Enquanto com outros equipamentos encontrávamos um vazamento por quilômetro, agora são três. Assim, com a tecnologia vinda do espaço, ganhamos tempo e tornamos todo o processo muito mais eficiente”, afirma.
A área escolhida para o projeto piloto com o satélite é uma das mais difíceis da cidade para encontrar vazamentos ocultos. Isso porque a região possui mais camadas de asfalto nas ruas e o solo é arenoso.
Quase 600 km de rede de água escaneados
Entre outubro de 2022 a janeiro de 2023, o satélite escaneou 582 Km de rede de água. Apenas nesse perímetro e período, foram encontradas 122 possíveis áreas com vazamentos, também confirmados com o geofone.
O que já foi reparado devolveu ao sistema 158 milhões de litros de água. Até o final dos consertos e trocas de tubulações em curso, o volume de água recuperada poderá abastecer sete mil habitantes.
Combate ao desperdício ajuda a resolver problemas históricos
“O que é importante pontuar é que, uma vez retornada ao sistema, essa água pode então ser remanejada para bairros onde há problemas históricos de abastecimento. Quando combatemos o desperdício de água tratada, exigimos menos do meio ambiente, que precisa fornecer água para uma população crescente. Ou seja, investir em tecnologia de ponta hoje é garantir a segurança hídrica do planeta e das próximas gerações”, afirma Bianchini.
O satélite agora será utilizado nas zonas norte e centro da capital, além dos demais 26 municípios que fazem parte da área de atuação da concessionária.
Programa de redução de perdas
O uso do satélite se soma a outras ações contra perdas que fazem parte do programa da Aegea. Inclui a setorização das redes de água, com a instalação de válvulas que dividem as tubulações em setores, permitindo que obras e intervenções aconteçam pontualmente, não afetando todo o sistema.
Foram instalados ainda equipamentos que registram o volume e a pressão da água em diversos pontos e mandam avisos para o Centro de Operações Integradas (COI) da companhia. Paralelamente, desenvolvem-se ações de fiscalização de ligações clandestinas.