As doenças transmitidas a partir do contato com a água contaminada e esgoto sem tratamento, como diarréias, como mostrado na matéria anterior, ou infecções urinárias, prejudicam principalmente as mulheres.
“Quando essas mulheres adoecem, isso afeta a família como um todo, porque geralmente são elas que cuidam das crianças, da alimentação, de tudo na casa”, analisa o médico sanitarista e epidemiologista Manoel Dias da Fonseca.
Infecções ginecológicas também estão relacionadas ao saneamento
O contato com o esgoto não tratado expõe a população a parasitas, vírus e bactérias, causadores das diarréias e infecções urinárias. Até mesmo a pobreza menstrual tem ligação com o saneamento, uma vez que o descarte incorreto de absorventes está relacionado a infecções ginecológicas.
“O esgoto a céu aberto, com grandes quantidades de água parada, pode também ser um ambiente para proliferação do Aedes aegypti, transmissor de doenças como dengue, zika e chikungunya”, completa o médico sanitarista Manoel Dias.
Leitos de hospitais ocupados com doenças que poderiam ser evitadas
Em 2022, o Ceará registrou mais de 198 mil casos de diarreia aguda, segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado. O número é 38% maior que o registrado no ano anterior. As doenças de veiculação hídrica têm maior incidência em áreas vulneráveis.
“Os leitos de hospitais, que poderiam ser ocupados para tratar doenças crônicas, acabam sendo usados para cuidar de diarréias em crianças, que evoluem para quadros graves. Elas poderiam ser evitadas com acesso a um sistema de saneamento básico”, relaciona o médico.
Investimentos para melhorar índices de saúde
No Ceará, a Parceria Público-Privada de esgotamento sanitário, firmada entre a Companhia de Água e Esgoto do Estado (Cagece) e a Ambiental Ceará, por meio da Aegea, atua em 24 municípios.
Os investimentos estão sendo feitos para universalizar o acesso aos serviços de coleta e tratamento de esgoto até 2033, apontando para a melhora nos índices de saúde.
Universalização pode gerar economia de mais de R$ 25 bilhões
No Brasil, além do impacto na qualidade de vida, com menos adoecimento da população, a universalização do esgotamento sanitário pode gerar uma economia, até 2040, de R$ 25,1 bilhões com gastos em saúde, de acordo com estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil.
O diretor-presidente da Ambiental Ceará, André Facó, destaca que a estrutura de saneamento protege não somente a saúde da população, mas também reduz o impacto de doenças na economia. “Um ambiente com sistema de esgotamento sanitário adequado tem melhora na produtividade dos trabalhadores”, aponta.