O Instituto Trata Brasil, em parceria com a EX Ante Consultoria, lançou o estudo “Saneamento é saúde: como a falta de acesso à infraestrutura básica afeta as incidências de Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado no Brasil?”, que analisou o período de 2008 a 2024.
As conclusões são alarmantes: em 2024, foram registradas 344,4 mil internações e, em 2023, mais de 11,5 mil mortes por doenças evitáveis com saneamento adequado.
Ameaça direta à saúde pública
A pesquisa revela que a falta de saneamento básico continua sendo uma ameaça direta à saúde pública, especialmente em regiões mais vulneráveis. Entre os principais pontos do estudo estão:
- A chegada do saneamento pode reduzir em 69,1% as internações por doenças relacionadas após 36 meses;
- O Maranhão foi o pior estado nas taxas de incidência total e de doenças feco-orais;
- Mulheres, crianças, indígenas, pardos e amarelos são os mais afetados;
- Crianças de 0 a 4 anos e idosos respondem por 43,5% das internações;
- Em 2023, foram registrados 11.544 óbitos por doenças ligadas à ausência de infraestrutura básica.
Quais são as doenças ligadas à falta de saneamento?
As Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI) incluem enfermidades amplamente conhecidas dos brasileiros e que poderiam ser prevenidas com acesso à água tratada e coleta de esgoto.
Incluem diarreias, dengue, leptospirose, conjuntivite e outras enfermidades. A maior parte das internações ocorre por dengue (49%) e doenças feco-orais (47,6%). As principais DRSAI, que não deveriam mais existir, são:
- Diarreias, hepatite A, amebíase e cólera (transmissão feco-oral);
- Dengue, febre amarela e malária (transmitidas por insetos);
- Leptospirose e esquistossomose (contato com água contaminada);
- Conjuntivite, dermatites e doenças ligadas à higiene;
- Verminoses e teníase (infecções parasitárias intestinais).
Em 2024, só a dengue causou mais de 160 mil internações. Já as doenças feco-orais somaram cerca de 164 mil casos.
Quem mais sofre com a ausência de saneamento
A pesquisa mostra que os mais afetados são crianças de 0 a 4 anos e idosos, responsáveis por 43,5% das internações.
Além do recorte etário, o estudo mostra que mulheres são internadas e morrem mais por essas doenças. Isso também reflete o papel social que muitas assumem como cuidadoras dos filhos. As taxas mais altas de incidência atingem populações indígenas, pardas e amarelas, apontando a desigualdade étnica e social da crise sanitária.
O estudo mostra que a precariedade do saneamento é mais grave no Norte e Nordeste, com destaque negativo para o Maranhão, onde a taxa de internação por doenças feco-orais chega a 45,8 casos por dez mil habitantes. No Norte, o Amapá, Pará e Rondônia também apresentam altas incidências. O estudo mostra que onde há menos cobertura de saneamento, há mais internações e mortes, portanto, investir em saneamento é salvar vidas e reduzir gastos.
Conclusão: saneamento é urgência nacional
Com a universalização do saneamento, estima-se que as internações por DRSAI podem cair 69,1% em até 36 meses após a implantação dos serviços. Isso representaria uma economia de R$ 49,9 milhões por ano ao SUS — ou R$ 1,25 bilhão ao longo dos anos. É um retorno social, econômico e humano inestimável, aponta o estudo.
Para Luana Pretto, presidente do Trata Brasil, é urgente investir no acesso à água potável e ao esgoto tratado. “É muito triste ver que o Brasil, prestes a sediar a COP-30, ainda registre quase 350 mil internações por doenças evitáveis. Precisamos de ações concretas, rápidas e justas para mudar essa realidade.”
Acesse o site do Trata Brasil e leia o estudo completo.