Um estudo recente do Instituto Trata Brasil comprova o que muitos brasileiros já sabem: quanto maior o acesso aos serviços de água e esgoto tratados, menor a incidência de doenças de veiculação hídrica.
Depois de viver muito tempo sem acesso ao esgoto tratado, a professora aposentada Yone Araújo, moradora do loteamento Campo Dourado, na Zona Norte de Manaus, agora sabe, na prática, o valor do saneamento para a saúde.
“Eu usei a fossa durante 29 anos porque era a única opção que eu tinha. A partir da chegada do sistema de esgoto, eu logo me interliguei, pois sei os benefícios desse serviço. Agora eu sei que o esgoto vai ser tratado antes de ser devolvido para a natureza. Não vou ter mais os dejetos depositados aqui no fundo da minha casa. A gente sabe que isso pode causar doenças graves, como problema no estômago e diarreia”, disse.
Falta de saneamento aumenta incidência de doenças
A experiência da professora Yone ilustra um cenário vivido por milhões de brasileiros. E os dados confirmam: as áreas sem saneamento básico estão mais suscetíveis à doenças como diarréias agudas e à proliferação de insetos. A confirmação é do diretor de Vigilância Ambiental da FVS-RCP, Elder Figueira, que acompanhou recentemente um estudo feito em Manaus.
“A falta de acesso à água tratada e o descarte inadequado de resíduos e esgoto aumentam a incidência de doenças, como diarréias agudas. Ambientes sem o devido saneamento favorecem a proliferação de vetores, como moscas, mosquitos e roedores, que também podem transmitir doenças”, ressalta.
Estudo do Trata Brasil traz números alarmantes
O estudo “Saneamento é saúde: como a falta de acesso à infraestrutura básica afeta as incidências de Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado no Brasil?”, do Trata Brasil com a EX Ante Consultoria, traz conclusões alarmantes.
As Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI) incluem enfermidades amplamente conhecidas dos brasileiros e que poderiam ser prevenidas com acesso à água tratada e coleta de esgoto.
Entre elas estão diarreias, dengue, leptospirose, conjuntivite e outras enfermidades. A maior parte das internações ocorre por dengue (49%) e doenças feco-orais (47,6%).
Em 2024, foram registradas 344,4 mil internações e, em 2023, mais de 11,5 mil mortes por doenças evitáveis com saneamento adequado. A pesquisa revela que a falta de saneamento básico continua sendo uma ameaça direta à saúde pública, especialmente em regiões mais vulneráveis.
Manaus: redução de 88% nos casos de hepatite A e 46% nos de diarreia
Se os dados nacionais já preocupam, os resultados alcançados em Manaus mostram como o saneamento pode mudar essa realidade.
Da capital do Amazonas, vem números que são um alento: entre 2018 e 2024, os casos de hepatite A tiveram redução de 88%, segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP). A mudança coincide com a expansão dos serviços de água e esgoto na capital amazonense.
Os índices de diarreia também merecem destaque: em janeiro de 2025, foi registrada uma queda de 46% em relação ao mesmo mês no ano passado em Manaus, segundo dados da mesma instituição.
Em janeiro do ano passado, foram 14 mil casos da doença na cidade. Neste ano, o órgão estadual contabilizou 7,5 mil no primeiro mês de 2025. O comparativo anual tem ainda uma redução de 10% entre 2023 e 2024.
Ampliação do saneamento: promoção de saúde
Diante dos números, o diretor de Vigilância Ambiental, Elder Figueira, lembra que o acesso ao saneamento adequado é imprescindível para a promoção da saúde, prevenindo doenças e melhorando a qualidade de vida de toda a população.
Não por acaso, o Dia Mundial da Saúde deste ano reforça ainda mais esse alerta.
Dia Mundial da Saúde 2025
Em um contexto onde o saneamento básico ainda é um desafio, a data – celebrada em 7 de abril – denota a urgência de investir nessa infraestrutura.
Para ampliar a conscientização sobre a importância da saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu em 1948 o 7 de abril como o Dia Mundial da Saúde. Este ano, a data tem como tema “Inícios saudáveis, futuros esperançosos”, focando sobre saúde materna e neonatal.
A campanha vai durar um ano, trazendo incentivo para que os governos e a comunidade da saúde intensifiquem seus esforços para priorizar a saúde neonatal e o bem-estar de longo prazo das mulheres. Além disso, a OMS e seus parceiros compartilharão informações úteis para apoiar gestações e partos saudáveis, bem como melhor saúde pós-natal.
Saiba mais
Quer entender em detalhes como o saneamento transforma vidas e salva milhares delas? Acesse o estudo completo do Instituto Trata Brasil aqui: https://tratabrasil.org.br/saneamento-e-saude/