Indígenas estão entre mulheres que mudaram suas vidas com publicação de livro

Indígenas estão entre mulheres que mudaram suas vidas com publicação de livro
Texto: Rosiney Bigattão

Será que um livro pode mudar a história de uma vida? Para lembrar e homenagear o Dia Internacional do Livro, celebrado em 23 de abril, o Aegea Blog fez a pergunta para as mulheres empreendedoras que tiveram suas trajetórias publicadas nos livros Biografias Colaborativas.

“O livro foi bem importante, levou a minha história, que é a do meu povo, para quem não conhecia, para espaços onde eu não transitava, potencializou a nossa luta”, diz Vanda Ortega Witoto, uma das biografadas, que representa mais de 305 povos originários da Colômbia que hoje vivem no Brasil.

Ela é Witoto, que significa “formiga brava”. “Ter um livro com a voz de uma mulher indígena é importante, pois precisamos dar voz ao nosso povo, continuamos invisíveis, sou uma das poucas nestes espaços onde frequento hoje”, diz a líder indígena.

Filha de Mura também conta sua história em livro

Outra mulher indígena do projeto é Maíse Ribeiro, bailarina, professora de dança e, hoje, empresária. “Eu nasci em Manaus, mas minha mãe nasceu na aldeia, portanto, sou filha de Mura”, conta ela. Os Mura são considerados diferenciados e vivem tanto em aldeias quanto nos centros urbanos. 

Inspirando outras mulheres que é possível empreender e seguir seus sonhos, Maíse desenvolve um projeto na comunidade Parque das Tribos, em Manaus, que é atendido pela Águas de Manaus nos serviços de água e esgoto. A comunidade abriga mulheres de todas as etnias. 

“São índios não aldeados, de contexto urbano, como eu, e levo para lá cestas básicas e livros. Tenho um retorno incrível das mulheres, que dizem que eu sou como uma irmã que não esqueceu suas origens e ajudam a divulgar, de certa forma, a história delas também”, conta Maíse.

Outra estratégia para divulgar o livro são palestras de empoderamento feminino. “Se deixar por conta, ninguém lê”, diz. Criativa, também faz saraus literários com trechos de dança e de leitura do livro. “O livro me dá confiança, mostrou o meu valor”, conta ela.

Publicação foi como um reality show: a vida é mais bela quando é lida

“O projeto foi um divisor em minha vida, veio em um momento difícil, fez com que eu resgatasse a confiança e a fé. No início achava que era algo pequeno, mas depois parecia que eu estava em um reality show”, afirma Chay Santos, publicitária e produtora de moda.

“Onde eu chego as pessoas sabem quem eu sou. O livro abriu e abre muitas portas em minha vida. Mulher preta, da periferia, estar onde estou agora seria impossível sem o projeto”, afirma Chay. “Ele confirmou o meu propósito, de fazer acontecer, nossa família se salvou pela educação”, diz.  

A mãe e a avó de Chay eram quebradeiras de coco e costureiras em Santarém. Aos 18 anos, ela foi para Manaus estudar publicidade. Com duas filhas, lê muito para as meninas e quer que o futuro delas seja trilhado pela educação. 

“A vida é mais bela quando é lida”, diz. “Ler é entrar em um  universo mágico, se conectar a outras histórias. “Abra um livro, leia. Saia da tela do celular e do piloto automático, viva a vida em toda a sua intensidade”, é a dica de quem teve sua vida transformada pelo projeto.

Mulheres passaram a se valorizar mais a partir do projeto

Michelle Leite, outra biografada, conta que viveu uma mudança muito grande, interna e profissionalmente. “Me valorizo mais hoje, também dou mais valor ao conhecimento que adquiri em toda a minha vida”, conta ela, que é chef de cozinha e trabalha como vigilante.

A última autora é Rute Lima. “Sou mulher negra, deficiente, LGBT e esse livro é um grito. A gente sofre muito para ser ouvido. Mas, a partir de agora, quero que pessoas como eu vejam que é possível”, disse ela no dia do lançamento das publicações, em dezembro de 2021 em Manaus.

Mais sobre o projeto

O projeto Biografias Colaborativas foi realizado a partir de abril de 2021, com patrocínio da Águas de Manaus. Apresentado pelo Ministério do Turismo, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, tinha como objetivo transformar histórias de mulheres em obras que inspirassem outras mulheres.

A ideia deu muito certo – um ano e pouco depois do lançamento dos livros, eles continuam movimentando vidas. Escolhidas entre mais de 100 inscritas no projeto, além da publicação, receberam treinamento, consultoria e um aporte financeiro para incrementar seus negócios.

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