A doação de mil mudas de espécies nativas do cerrado e pantaneiras feita pela Ambiental MS Pantanal (MS) é a segunda em menos de um ano. A primeira, feita em comemoração ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado em 8 de agosto. Agora, também em evento comemorativo, a PPP voltou à aldeia para entregar as futuras árvores que vão ajudar a revitalizar as nascentes da área indígena, que pertence à Bacia do Paraguai.
As atividades agrícolas do povo terena que vive no município de Cachoeirinha foram duramente afetadas com as queimadas recordes que atingiram a região pantaneira nos dois últimos anos. Os incêndios resultaram em chuvas ácidas e de fuligem, que prejudicaram a colheita de frutas e verduras que seriam destinadas ao sustento das famílias. Na terra Indígena de Cachoeirinha vivem cerca de 6 mil pessoas da etnia terena.
Uma parte da doação incluiu espécies frutíferas. Foram entregues pela MS Pantanal mudas de jacarandá, cagaita, ipê, pitanga, araribá, bacupari, fruta do conde, entre outras. A ação foi realizada em parceria com a ONG Comitiva Esperança, de Campo Grande.
Proteção das nascentes
A cultura terena acredita que as nascentes dos rios são protegidas por uma figura sagrada chamada Voropí, descrita como uma serpente multicolorida. Anciões e moradores locais contam que o Voropí já foi avistado algumas vezes pelos terenas antes das atividades de monocultura afetarem o sistema hídrico da região e espantá-lo dali.
De acordo com o coordenador da Organização Caianas, Leosmar Antonio, que também é morador da aldeia, quando o equilíbrio do sistema hídrico é afetado pela ação predatória dos homens, o Voropí abandona o local em busca de regiões com melhores condições e matas preservadas.
Desde 2005, a Organização Caianas luta pela revitalização das áreas de nascentes, com o objetivo de recuperar áreas verdes degradadas. O trabalho de resgate é também cultural, feito por meio de seminários, ações ambientais, projetos educativos, ampliação de áreas agroflorestais e mapeamento de árvores nativas no território indígena.
O nome Caianas é uma referência aos “Kayanás”, segmento da estrutura da organização tradicional Terena, composto por sábios e intelectuais do grupo. Kayá significa cérebro na língua Terena. O nome da organização também é um acrônimo para Coletivo Ambientalista Indígena de Ação para Natureza, Agroecologia e Sustentabilidade.