Ver os jovens felizes, tocando e cantando seus hinos nos intervalos das atividades da Glocal Experience é um alento para os olhos. E também uma onda de esperança, principalmente após ter assistido ao diálogo sobre o futuro dos oceanos.
Um futuro que está nas mãos dos jovens. Que está nas nossas mãos, na responsabilidade de despertar a consciência deles. Está ainda nas mãos de empresas, organizações, enfim, de todo o mundo, dizem especialistas que estudam os oceanos nas últimas décadas e até em uma vida inteira.
Mais do que a capacidade de agir dos jovens, é preciso buscar recursos, novas formas de fazer, inovação tecnológica e vontade de fazer diferente. Para falar do assunto, que envolve diretamente o ODS 14, estiveram presentes a representante do Pacto Global da ONU, empresários e biólogos.

Ninguém sobrevive sem um oceano saudável
Um dos pontos levantados na Arena de Diálogos da Glocal Experience é que cuidar dos oceanos é cuidar da nossa saúde. “Ninguém sobrevive sem um oceano saudável. Nós temos no Rio um exemplo que representa a relação do homem com o oceano, que é a Baía de Guanabara”, disse Ricardo Gomes, presidente do Instituto Mar Urbano, uma organização não-governamental criada para mobilizar as pessoas com foco na vida marinha.
“O papel dos oceanos na saúde do planeta é importantíssimo, os gases do efeito estufa têm um impacto muito grande que, por sua vez, interferem no equilíbrio do clima, na retenção do carbono, na acidificação dos corais e dos manguezais, enfim, está tudo associado. Precisamos estudar e buscar soluções para reverter o mal que fizemos até agora”, disse Flavio Andrade, CEO da Ocean Pact.
Para eles, um dos locais onde isso fica mais evidente é a Baía de Guanabara. Por ser uma baía, ela retém – e mostra – tudo o que recebe de ruim. Mas as águas turvas escondem a riqueza que ainda sobrevive lá embaixo. “A baía está podre, mas não está morta”, contou Pedro Belga, biólogo da Guardiões do Mar. A ONG já plantou mais de 20 mil árvores para a recomposição da área de mangue e retirou toneladas de lixo da baía.

Abraço global em torno da Baía de Guanabara
Foi recolhendo resíduos em mergulhos junto com a filha que Ricardo conseguiu despertar a atenção do mundo todo para a Baía de Guanabara. Um detalhe: ela tinha três anos na época. O vídeo viralizou, teve mais de 500 milhões de visualizações. Várias pessoas ao redor do mundo se espelharam nela e passaram a atuar, de alguma forma. “Foi um abraço global em torno da questão”, disse.
“Um russo me disse: se uma menina de três anos está mergulhando para recolher lixo do mar, porque eu estou de braços cruzados?”, contou ele. Depois, a pequena NIna, que hoje tem cinco anos, foi convidada para bater o sino da Ocean Pact na Bolsa de Valores. “Temos que entender que o Capital não pensa, nós é que temos que pensar e levar os projetos para as empresas patrocinarem”, lembrou Ricardo.

O lixo não pertence ao mar
Um dos projetos recentes nesse sentido foi o Blue Keepers lançado pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU. Mais de 1.600 empresas de todos os setores estão envolvidas no combate à poluição do plástico em bacias hidrográficas e oceanos. Para Gabriela Otero, coordenadora do projeto, para proteger a vida marinha, meta do ODS 14, o caminho começa com um olhar diferente para os resíduos que produzimos.
“O lixo não pertence ao mar, mas hoje quando falamos em oceano o foco principal são as 150 milhões de toneladas de resíduos e pouco sobre a resiliência dos animais que ainda sobrevivem nele. Para mudar toda essa situação, é preciso conhecer para transformar”, afirmou Gabriela. O Blue Keepers faz um catalogamento de todo o material recolhido nas praias. Que chegam ali pelos rios, pela água da chuva, pelo esgoto não tratado.

Olhar diferente para os resíduos que produzimos
“Não se trata de vilanizar o plástico, mas entender que para mudar não basta trocar o plástico pelo papelão nem colocar lixeira na praia. É preciso falar antes sobre o combate à poluição e ao consumo de drogas, por exemplo. Falar também sobre saneamento e repensar o consumo. A coleta que fazemos nos mostra uma inteligência de dados para traçar estratégias”, disse a coordenadora do Blue Keepers.
Para o biólogo Pedro Belga é preciso educar as pessoas para o saneamento. “Saneamento ainda é uma palavra fora do contexto social, mas se você consegue fazer com que elas entendam sobre o ato de descartar o seu resíduo corretamente, de pensarem sobre o que acontece quando dão descarga no vaso sanitário, começa uma mudança de olhar. Nisso, as empresas de saneamento são extremamente importantes, porque elas estão no meio do caminho entre o descarte incorreto e a vida do oceano”, afirmou.

O futuro da Baía de Guanabara
Pedro Belga tem razão e a conscientização é uma das vertentes do trabalho das empresas de saneamento. Muito do que foi falado pelos especialistas na Arena de Diálogos, o Instituto Aegea e a Águas do Rio mostram na Glocal Experience. O visitante faz um passeio virtual pela Baía de Guanabara. No início, vê com lentes aumentadas, o resultado do descaso. Depois, enxerga o futuro em três dimensões.
A mudança começa com a construção de um cinturão de proteção para impedir o derrame de esgoto sem tratamento. Em cinco anos, a Águas do Rio vai investir R$ 2,7 bilhões em coletores em tempo seco. Até 2033, data para as metas dos ODS serem atingidas, a empresa terá investido cerca de R$ 10 bilhões nos sistemas de esgoto dos oito municípios que contribuem para o ecossistema da baía e estão na área de abrangência da empresa.
É a possibilidade de construir esse futuro que motiva quem faz do oceano uma verdadeira paixão. “Estou grato por estar aqui, estamos falando também do OSD 17, que é sobre fortalecer parcerias. Estamos unindo esforços, tocando os corações das pessoas para fazer com que cada um dos habitantes desse planeta assuma compromissos com a sustentabilidade dele. O oceano nos deu a vida e sem ele não sobreviveremos”, diz Ricardo Gomes, do Instituto Mar Urbano.

Estamos construindo a cada dia um pedacinho desse planeta
“Eu vim de comunidades e quando eu resolvi fazer Biologia Marinha, as pessoas disseram – você vai morrer de fome. Hoje eu gero mais de 60 empregos, são pessoas engajadas, com vontade de mudar a sua realidade. Quando eu chego em uma comunidade e ensino o turismo de base comunitária e as pessoas percebem que elas conseguem transformar a sua realidade a partir de uma renda alternativa, eu estou construindo a cada dia um pedacinho desse planeta, então sou muito otimista em termos um planeta sustentável”, disse Pedro Belga.

Mais sobre a Glocal Experience
Patrocinada pela Águas do Rio e pelo Instituto Aegea, a Glocal Experience está sendo realizada na Marina da Glória (RJ). A reflexão e o debate propostos reforçam a importância do trabalho em conjunto para que as metas da Agenda 2030 da ONU sejam alcançadas. Saiba mais em: glocalexperience.com.br
Fotos: Alessandro Costa e Paulo Whitaker.