Plantio renova esperança de ribeirinhos pantaneiros

Cenas tristes tomaram conta dos noticiários. O fogo e a seca extrema voltaram a ameaçar a vida no Pantanal. Mato Grosso do Sul chegou a decretar estado de emergência. Um relatório dos Ministérios Públicos de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso mostra que os incêndios no Pantanal em 2020 consumiram 4,5 milhões de hectares.

Depois de uma situação tão alarmante, as ONGs Ecoa e Comitiva Esperança e a Ambiental MS Pantanal conseguiram levar um pouco de alento para as populações ribeirinhas que tiveram prejuízos incalculáveis com as queimadas. Foi feito um plantio simbólico de espécies nativas pantaneiras na APA Baía Negra, uma Área de Preservação Ambiental em Ladário, município ao lado de Corumbá (MS), no coração do Pantanal.

As queimadas recordes registradas no bioma no ano passado (veja box abaixo) trouxeram prejuízos incalculáveis tanto para a fauna e flora locais como para famílias que vivem na APA, às margens do Rio Paraguai. Estima-se que os incêndios tenham causado o maior prejuízo ambiental já registrado no Pantanal. “O fogo levou embora hortas e pomares, deixando os moradores em situação de insegurança alimentar”, alertou o coordenador da Comitiva Esperança, João Mazini.

Esperança para os pantaneiros

Em junho, no entanto, famílias que vivem na área de preservação receberam as primeiras mudas de árvores frutíferas, em um projeto de reflorestamento da APA, coordenado pela Ecoa, que trouxe um sopro de esperança à comunidade. Foram plantadas 50 mudas nos quintais de famílias que foram duramente afetadas pelas queimadas.

As mudas, doadas pela MS Pantanal, foram plantadas simbolicamente, e fazem parte de uma doação maior, de mil mudas, a serem plantadas no período das chuvas, no último trimestre. Entre as espécies doadas estão o ipê para tudo: ipê-roxo, ipê-branco, ipê-amarelo, jenipapo, baru, moringa e pitanga.

Vale lembrar que plantas frutíferas que davam sustento aos ribeirinhos e aos animais que ali viviam ainda não se recuperaram. Além disso, o baixo nível do Rio Paraguai está prejudicando a pesca, de acordo com moradores locais.

“Queimaram meus pés de limão, que já estavam dando fruta; o mandiocal, as ramas que eu tinha pra plantar de novo”, lamentou dona Zilda, que vive na região há pelo menos 20 anos. No quintal da vizinha, dona Branca – que por pouco não teve de deixar sua casa, por conta das chamas –, aconteceu o mesmo: “O fogo levou os pés de caju, jabuticaba e banana-da-terra”, conta.

Missão: semear o futuro

Diante do drama vivido pelas famílias pantaneiras, uma ação de incentivo para a recuperação de um dos biomas mais importantes do país e de todo o planeta. “O objetivo da ação é ressaltar a importância do reflorestamento de áreas devastadas e também lembrar que, para ter esperança num futuro mais verde, é preciso antes semear”, disse o coordenador da ONG Comitiva Esperança.

A APA Baía Negra é uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável e foi criada com o intuito de unir a proteção do meio ambiente à sobrevivência da população tradicional da área. Esta foi a primeira Área de Preservação Permanente (APP) criada na região. “Não vemos a hora de reflorestar; principalmente as plantas nativas que o fogo levou – queimou tudo”, disse dona Júlia, que também construiu sua vida na APA. “Mas, neste momento, a esperança é muito grande”, ponderou.

As queimadas no Pantanal

O relatório de um estudo apresentado pelos Ministérios Públicos de Mato Grosso do Sul (MPMS) e de Mato Grosso (MPMT) aponta que 21 cidades de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso foram atingidas com as queimadas no bioma em 2020. Ao todo, de acordo com os MPs, 2.058 propriedades foram prejudicadas, 16 Unidades de Conservação e 6 terras indígenas.

Os dados mostram que de 1/1/2020 a 30/11/2020 foram consumidos nos incêndios 4,5 milhões de hectares do Pantanal. Com o alto número, os MPs apontaram que o ano de 2020 foi o que teve mais registros de fogo no bioma desde o fim da década de 90, quando se iniciou o monitoramento pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

As informações foram compiladas pelos setores de geoprocessamento do MPMS e do MPMT. Os órgãos informaram que o relatório técnico ajudará na elaboração de estratégias de atuação para trabalhar tanto na forma preventiva quanto na repressiva, a fim de minimizar ocorrências como as de 2020, em períodos futuros.