Saúde mental: saiba reconhecer o vício em jogos e como combater

Saúde mental: saiba reconhecer o vício em jogos e como combater
Texto: Felipe Arguelho e Rosiney Bigattão

O vício em jogos e apostas online é um problema crescente que afeta a saúde mental e a vida das pessoas de diversas maneiras. Por um lado, se tem a facilidade das casas de jogos online, chamadas bets, por outro a publicidade excessiva vários canais com a promessa de ganhos financeiros.

Para debater este tema, a Aegea, por meio da Academia Aegea e da área de EHS, promoveu uma live com o psicólogo Gustavo Neves, da Prática Consultoria, parceira da Companhia. O encontro foi conduzido pelo gerente de Saúde Ocupacional da Aegea, Danilo Sesma Costa. “Segundo a Organização Mundial de Saúde, o vício em jogos é considerado uma doença, a ludopatia, e precisa de cuidados. Entendemos de extrema importância debater esse tema, pois os casos têm aumentado de forma preocupante”, afirmou.

Em sua palestra, Gustavo Neves explicou como o vício em jogos e apostas online se instala e evolui. “Toda semana atendemos ao menos um caso de alguém passando por essa situação ou de um familiar impactado. Muitas pessoas acabam perdendo não só financeiramente, mas também relações sociais, casamentos e até vínculos profissionais. O isolamento é uma das consequências mais graves”, disse.

Como o vício se instala no cérebro

O vício em jogos funciona de forma semelhante ao vício em substâncias químicas. Ele ativa o sistema de recompensa do cérebro por meio da liberação de dopamina — neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e bem-estar. Com o tempo, o cérebro passa a buscar compulsivamente esse estímulo, criando um ciclo de dependência.

“A pessoa começa acreditando que tem controle. Consegue parar por uma semana, duas, e acha que pode parar quando quiser. Mas o cérebro já está condicionado a buscar a dopamina que o jogo oferece. E quando tudo na vida começa a dar errado, o cérebro recorre ao vício como forma de alívio imediato”, destaca.

Segundo ele, as casas de apostas utilizam mecanismos como recompensas diárias, bônus aleatórios e sistemas de loot boxes para manter o usuário engajado e dependente. Além disso, dificultam o saque dos valores ganhos, incentivando o reinvestimento e aumentando o risco de perda.

Depoimentos revelam os impactos para as famílias

Esse cenário é confirmado por relatos de colaboradores e pessoas que vivenciaram de perto os impactos do vício. Um depoimento anônimo revela: “O vício em jogos é perigoso porque rouba a liberdade, destrói os sonhos e afasta quem mais amamos”.

Outro relato, também anônimo, trouxe uma perspectiva pessoal e reflexiva sobre o tema: “Para os colegas que jogam, eu já cheguei a pedir dicas ao invés de avaliar se eles estavam viciados. Inicialmente, me senti seduzido com os relatos de ganho fácil. Pensei que ganhando conseguiria amortizar parte das minhas dívidas. Para cair neste ‘poço’, existe uma linha muito tênue entre se divertir e ficar dependente. Complicado e profundo este assunto, pois é como todo e qualquer vício: fácil de entrar, difícil de sair”.

Dicas para identificar e combater o vício

Durante a live, Gustavo Neves compartilhou orientações práticas para reconhecer comportamentos de risco e reforçou a importância de buscar ajuda o quanto antes, seja por meio de terapia individual, grupos de apoio ou plataformas de atendimento online.

Quando o jogo vira problema:

  • Observe se há perda de controle sobre o tempo e o dinheiro gastos em jogos.
  • Reflita se já houve tentativas de parar ou reduzir as apostas sem sucesso.
  • Analise se os jogos estão prejudicando sua vida profissional, social ou familiar.
  • Fique atento ao sentimento de culpa ou ansiedade após jogar.

Para familiares e colegas de trabalho:

  • Esteja atento a mudanças de humor repentinas ou comportamento mais recluso.
  • Desconfie de pedidos frequentes de dinheiro ou endividamento sem explicação clara.
  • Perceba sinais de queda no desempenho profissional ou nos estudos.
  • Procure conversar de forma acolhedora, sem julgamentos, incentivando a busca de ajuda.

Acolhimento: como ajudar

O impacto não é apenas financeiro. “A pessoa entra em um ciclo de estresse, perda de relacionamentos, queda de produtividade e até demonstra desinteresse pelas coisas que mais gostava. Por isso, é tão importante falar sobre isso, acolher e oferecer apoio”, alertou o especialista.

A abordagem deve ser acolhedora, sem julgamentos. É essencial demonstrar preocupação e oferecer apoio, sem pressionar. Sugira ajuda profissional, compartilhe contatos úteis e esteja disponível para ouvir. “A última coisa que uma pessoa em sofrimento precisa é ser cobrada. Ela precisa de acolhimento, não de imposição”, orientou o psicólogo.

“Reconhecer os sinais é o primeiro passo para quebrar o ciclo do vício. É fundamental que tanto quem vive a situação quanto quem convive esteja atento e busque apoio”, reforçou o psicólogo.

O alerta também se estende aos adolescentes

A promessa de dinheiro fácil, somada à familiaridade com o ambiente digital, tem atraído jovens que ainda estão em fase de formação emocional e cognitiva. O acesso precoce a esse tipo de conteúdo pode afetar o desempenho escolar, o convívio familiar e o desenvolvimento saudável das relações sociais, exigindo atenção redobrada por parte de pais, responsáveis e educadores.

Segundo o psicólogo Gustavo Neves, algumas ações são essenciais para proteger os adolescentes: manter diálogo aberto e constante sobre os riscos do jogo; supervisionar os aplicativos e sites acessados; estabelecer limites claros para o uso de dispositivos eletrônicos; e, sempre que necessário, buscar apoio profissional ou grupos especializados.

Mais do que controlar, a orientação é acompanhar e caminhar junto, criando um ambiente de confiança para que o jovem se sinta seguro para falar sobre suas experiências e dificuldades.

Mais dicas para combater o vício

Outros recursos que podem ajudar:

  • Terapia (com destaque para a abordagem cognitivo-comportamental);
  • Grupos de apoio como Jogadores Anônimos;
  • Ferramentas de bloqueio de apps e sites de apostas;
  • Suporte espiritual ou redes de convivência positivas;
  • E, acima de tudo, empatia — com acolhimento e sem julgamentos.

“Ajudar não é controlar. É caminhar junto. Estar ao lado, oferecer escuta e informação, sem pressionar ou impor”, reforçou Gustavo.

Mais do que alertar, a live convida à reflexão e à ação: quem precisa de ajuda pode e deve pedir. E quem percebe alguém em sofrimento pode fazer a diferença com uma abordagem empática e cuidadosa.

A Aegea oferece diferentes canais de apoio psicológico e emocional aos seus colaboradores, com atendimento gratuito, sigiloso e disponível 24h.