8º ENA: o futuro do saneamento já começou

8º ENA: o futuro do saneamento já começou Aegea

“Não é uma ideia, não é uma teoria, não é uma promessa, já aconteceu. Do ponto de vista macro o Brasil tem essa capacidade e isso é só o começo”, afirmou Fábio Abrahão, do BNDES, na abertura do 8ºEncontro Nacional das Águas, no dia 16 de agosto. Realizado pela Abcon Sindcon, presencialmente na Amcham Brasil e transmitido pelo Youtube, o ENA tem como tema “Saneamento: a pauta do futuro”.

O diretor de Concessões e Privatizações do BNDES, se referia aos projetos realizados pela iniciativa privada que demonstram como o futuro do saneamento é promissor e já está acontecendo. Políticas públicas para o próximo ciclo de governo, as questões no âmbito regulatório, as relações entre educação e saneamento, os caminhos para a universalização e os desafios sociais atrelados aos investimentos do setor foram debatidos.

Depois de debater os temas propostos, ouvir os representantes de empresas, instituições, governos, candidatos à presidência, analisar as pesquisas e mapeamento, o ENA quer chamar a atenção para os desafios e necessidades para o próximo governo. Entre outros encaminhamentos, os principais pontos do 8ºEncontro Nacional das Águas vão fazer parte de uma carta que será entregue em novembro ao presidente eleito.

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Bons exemplos: pequenos municípios de Alagoas e o Rio de Janeiro

Muitos projetos, novas tecnologias e casos reais foram relatados no primeiro dia do evento. Fábio Abrahão visitou duas cidades onde foram realizados leilões recentemente, feitos a partir da modelagem do BNDES, e gostou do que viu, pois os resultados dos investimentos feitos são bastante perceptíveis. São dois opostos: um com a atuação em pequenas cidades e outro os desafios gigantes de regiões metropolitanas.

Uma delas pertence a um dos blocos do leilão de Alagoas, com municípios do agreste e do sertão, com população média de 10 mil habitantes. “Foi possível atrair capital privado. Uma companhia brasileira, de alto nível, organizada, e uma estrangeira brigando para colocar R$ 3 bilhões em saneamento no semi-árido. Bastou criar a condição adequada: bom projeto, interlocução com o mercado investidor e com os stakeholders”, disse.

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8º ENA: o futuro do saneamento já começou

Praia limpa e impacto positivo na vida das pessoas

Do outro lado, o Rio de Janeiro, onde foi realizado o maior leilão do setor. O diretor de Concessões e Privatizações do BNDES visitou a obra da Águas do Rio no Interceptor Oceânico, túnel de 9 km de extensão e 5,5 de diâmetro que encaminha o esgoto e as águas pluviais de bairros da Zona Sul para o emissário submarino. Toneladas de lixo estão sendo retiradas e, mesmo antes do trabalho terminar, a Praia de Botafogo ficou apta para banho.

Onde Fábio Abrahão ficou mais impressionado foi no Morro da Mangueira, onde a Águas do Rio também está atuando, com impacto positivo na vida da população. “É impressionante, as companhias estão conseguindo montar infraestruturas para regiões que são complicadas, do ponto de vista geográfico e de adensamento populacional, tem soluções como rede aérea de abastecimento”, contou ele.

Rio de Janeiro 8º ENA: o futuro do saneamento já começou Aegea

Geração de emprego e cidadania

Abrahão falou ainda da geração de 10 mil empregos diretos e três vezes isso indiretos e que a população está sendo treinada para executar essas obras e, assim, fazer parte do sistema econômico. “São populações esquecidas que querem fazer parte. Os moradores veem dois benefícios: um deles é ter água e esgoto tratados e outro é a cidadania, ter comprovante de residência que, além do efeito psicológico, ele consegue buscar emprego”, citou.

“A inadimplência em locais como Barreira do Vasco e Mangueira está com níveis inferiores aos de bairros nobres do Rio de Janeiro. A forma de atuar está sendo muito diferente das empresas do passado, é uma mudança de mentalidade e isso é o mais importante, ter uma população que vai cobrar pelos serviços e vai pagar por eles. Basta fazer do jeito certo. Essas coisas estão acontecendo, são concretas, basta ir lá e ‘tocar’. Eu recomendo”, disse.

Além de Fábio Abrahão, no painel de abertura “Saneamento no próximo ciclo do governo”, moderado por Percy Soares Neto, diretor-executivo da Abcon Sindcon, participaram Teresa Vernaglia, presidente do Conselho de Administração da Abcon Sindcon; Pedro Maranhão, secretário Nacional de Saneamento Básico; Vinicius Benevides, presidente da ABAR, e Vitor Saback, diretor da ANA.

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Outros temas: regulação e financiamento

O 8º ENA trouxe para o debate também a questão da regulação. Com mediação de Mariana Campos, “Contratos de programa e contratos licitados: diferenças regulatórias” foram debatidos pelo advogado Maurício Portugal Ribeiro, secretário substituto de Desenvolvimento da Infraestrutura Edson Silveira Sobrinho, Cíntia Leal Marinho de Araújo, superintendente de Regulação Econômica da ANA, e Kátia Côco, diretora da ABAR.

“Caminhos para o financiamento da universalização do saneamento” foi o assunto entre Alfredo Carvalho, da Secretaria Nacional de Saneamento; Solange Vieira, diretora de Crédito a Infraestrutura do BNDES, e Marcos Thadeu Abicalil, do NDB (Novo Banco de Desenvolvimento). Ilana Ferreira, superintendente Técnica da Abcon Sindcon, fez a moderação. Governança, garantias e modelos de crédito foram os assuntos principais.

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Inclusão social por meio do saneamento

“Um dos temas mais relevantes e desafiadores é o da inclusão social”, disse Yves Bessa, da Cristalina Saneamento, moderador do quarto painel do 8º Encontro Nacional das Águas. Para falar sobre a experiência das mobilizações no relacionamento com os clientes, o diretor-executivo da Diretoria de Comunidades, Renan Mendonça, apresentou o case “Águas do Rio – como a Aegea vai além nas comunidades vulneráveis”.

Renan demonstrou como a inclusão social é ponto determinante na atuação da Aegea. O relacionamento com as comunidades se baseia em quatro pilares principais, feitos a partir de pesquisa com os moradores. São eles: prestação de serviços de qualidade; preço justo, que é uma conta que cabe no bolso; dignidade, ser reconhecido (ter um comprovante de endereço), e quer ter oportunidades, com emprego e renda.

A partir do diagnóstico inicial e um trabalho que já vem sendo desenvolvido  em outras unidades da Aegea, a Águas do Rio implantou programas – alguns, como o Vem Com a Gente, resultam nos números e fatos apresentados na abertura do 8º ENA por Fábio Abrahão, do BNDES. A concessionária tem uma diretoria exclusiva para as comunidades, com um time de 500 pessoas envolvidas no atendimento.

As ações são bem variadas e incluem até cursos oferecidos aos moradores para que aprendam a fazer um currículo e tenham mais chances de conseguir um emprego. A Águas do Rio tem hoje mais de 3.000 colaboradores contratados nas comunidades. “A gente tem focado na prioridade da contratação de mão-de-obra local”, disse Renan Mendonça, explicando que foram feitos até mutirões para envolver a comunidade.

O Afluentes, direcionado ao relacionamento com os líderes comunitários, já traz resultados notórios. São quase 900 lideranças que demandam serviços para a concessionária. “Temos um atendimento diário, extenso, que ajuda a melhorar os serviços nas localidades onde atuamos, pois o programa é um olhar para a inclusão social”, afirmou o diretor-executivo da Diretoria de Comunidades da Águas do Rio.

Os números da Barreira do Vasco são exemplos dos resultados da atuação que vai além dos serviços de água e esgoto. Doze mil moradores da comunidade foram beneficiados, sendo que hoje a adimplência no local é de 85%. “Depois que a Águas do Rio entrou, melhorou muito”, diz Clelia Eliane em vídeo da concessionária. Cases de outras empresas, como a BRK, a Águas de Niterói e a Iguá Rio também foram apresentados.

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Gente por trás dos números e gráficos

Durante o Encontro Nacional das Águas foram apresentados números da agenda da universalização para o próximo governo. Segundo a Abcon Sindcon, com base nos dados da KPMG e SNIS, até 2033 são necessários investimentos na ordem de R$ 893,3 bilhões. Desse total, a meta para o presidente eleito deverá ser investir R$ 308,1 bilhões nos anos de 2023 a 2026. Segundo o levantamento, é preciso R$ 164,1 bilhões para universalizar a água, sendo R$ 59,3 bilhões nos próximos quatro anos. Para o esgoto, o período vai exigir R$ 175,4 bilhões.

A partir dos casos apresentados, foram feitas algumas provocações para inspirar futuras políticas públicas durante o painel “Desafios sociais do Brasil e a universalização do saneamento”, que encerrou as atividades do primeiro dia do evento. Participaram Renato Meirelles do Instituto Locomotiva; Danilo Moura, especialista de monitoramento de dados do Unicef Brasil, e Fabio Muller, diretor-executivo do Cieds. A moderação foi de Ilana Ferreira, superintendente técnica da Abcon Sindcon.

Um dos recortes importantes do painel foi mostrar que, atrás de cada número, de cada gráfico apresentado ali, que mostra o atual déficit de água e esgoto, de 35 milhões e 100 milhões de brasileiros sem acesso aos serviços, tem histórias reais. Brasileiros que têm sonhos, um jovem que antes de ir para a escola tem que passar por um monte de córregos que são verdadeiros esgoto a céu aberto, de um pai de família que fica na dúvida entre manter o lastro com a comunidade onde mora ou procurar um lugar melhor para se viver. Situações que pretendem ver resolvidas no próximo ciclo do governo.

Educação e saneamento foram temas de debates

No segundo dia do evento (17 de agosto), os debates ficaram em torno do desenvolvimento e formação profissional, dos desafios técnicos pós Marco Legal, de compliance nas empresas de saneamento e inovação no setor. A diretora de Gestão de Pessoas da Aegea, Fabianna Strozzi, participou do painel “Desenvolvimento no setor de saneamento e os desafios na formação de profissionais técnicos”, ao lado de representantes das empresas GS Inima Brasil, BRK Ambiental, CSA Equatorial e Hydrus Capacitação.

“Estou aqui para falar sobre como a formação impacta no nosso negócio e para isso temos a Academia Aegea, que já tem oito anos e tem três pilares de atuação”, disse. Um dos pilares, segundo Fabianna, é o de negócios, muito focado no ciclo do saneamento, no jeito único da Aegea de atuar, com respeito aos mais diferentes brasis – “somos mestres em brasicidades, por causa dessa valorização da cultura local”, explicou. O segundo pilar é o de cultura e liderança, para disseminar os valores da empresa onde ela atua.

“Formar para o futuro é o terceiro pilar, com uma série de programas, como o Pioneiros, voltado para jovens de comunidades, e os de trainee e Jovem Aprendiz. Além disso, oferecemos MBA e graduação com foco em saneamento. Já temos 50 colaboradores graduados e estamos na segunda turma do ensino superior”, pontuou. Outro aspecto é que a atuação em educação também é voltada para os moradores. “É um leque de soluções que a Aegea desenvolveu que podem evoluir e ser replicadas”, disse.

Desafios técnicos pós Marco Legal

Com o foco de debater temas e trocar experiências que servem de modelo na busca de soluções para o saneamento, a Abcon Sindcon inclui na programação o tema do lodo. “Se hoje apenas 40% do esgoto é tratado e a destinação do lodo resultante do processo de tratamento é um sério problema, como será quando o país atingir a meta de 90% de esgoto tratado?”, questionou André Lermontov, da Águas do Brasil, no painel “Desafios Técnicos Pós Marco Legal do Saneamento”.

A resposta vem de exemplos como o da Aegea, que apresentou no evento o trabalho desenvolvido de secagem do lodo e integração do material no conceito de economia circular. O diretor-executivo das unidades da Aegea no Espírito Santo, Valdir Alcarde Junior, mostrou como foi feita a implantação do sistema de secagem e compostagem do lodo na Mirante, Parceria Público-Privada em Piracicaba (SP). A Aegea também desenvolve ações semelhantes na Metrosul (RS), Prolagos (RS) e no Espírito Santo.

O lodo na economia circular em projeto premiado da Aegea

O primeiro passo dessas ações é caracterizar as diferentes composições do lodo das estações de tratamento, assim como pesquisar o potencial de uso local, da recuperação química e energética do material. A solução encontrada na Mirante é um exemplo de parceria de sucesso que envolve também a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo e a Esalq/USP, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, além da prefeitura de Piracicaba.

O projeto venceu o Prêmio ECO 2021/2022, pioneiro no reconhecimento de empresas que adotam práticas sustentáveis no Brasil. “É uma ideia que surgiu dentro de casa como uma alternativa econômico-financeira. Para tornar o processo viável nós pesquisamos tecnologias que tivessem um Capex baixo e pudesse atender aos compromissos ESG da Aegea. É uma alegria saber que podemos transformar lodo em um material produtivo dentro do conceito da economia circular e que o projeto pode ser replicado e ajudar o país nessa questão tão importante que é a destinação do lodo”, afirmou.

Inovação no setor

No último painel do 8º ENA, “O futuro já começou – Inovação no setor de saneamento”, mais uma contribuição da Aegea: a digitalização em 3D feita dos ativos do setor. Wagner Carvalho e Osmar Rosa, responsáveis pelo Programa Infra Inteligente, apresentaram a maior digitalização já feita em saneamento no Brasil, feita na Águas do Rio. “O Infra Inteligente tem cinco anos de elaboração e constante aprimoramento, reúne o que precisamos ter para a universalização acontecer, ao integrar investimentos em tecnologia, gestão de processos e pessoas. Somos gestores de ativos”, disse Wagner.

Para fazer a gestão de ativos, entender a realidade da cada unidade de saneamento, o Infra Inteligente faz um levantamento sobre a ‘saúde’ de cada um a partir de uma análise em três aspectos: físico, humano e informacional, que se conectam a 17 áreas de conhecimento. A partir dessa fonte de dados, que interliga desde aspectos financeiros aos aspectos humanos e resulta em um grande inventário das unidades de saneamento. O Infra Inteligente construiu o Gêmeo Digital, que reproduz digitalmente toda a operação de uma estação de tratamento de esgoto. 

Monitoramento à distância em tempo real, controle de vazamentos e diminuir perdas de água também foram discutidos no encerramento. “A gestão do conhecimento a partir de uma base ponderada de ativos é que vai aumentar a qualidade dos nossos serviços, inclusive do nível de controle de perdas, um dos grandes problemas que temos em saneamento hoje no país (de 40,1%, segundo o Trata Brasil), entre tantos outros pontos que precisam melhorar que possamos atingir a meta da universalização”, disse Wagner Carvalho. Ele disse que um desses instrumentos é a modelagem hidráulica, já realidade em grande parte das 154 unidades operadas pela Aegea no Brasil.

Para assistir à gravação do evento, clique aqui.

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